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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pecuária ainda impulsiona desmate da Amazônia, diz ambientalista



Apesar de todos os acordos entre ambientalistas e ruralistas, e iniciativas do judiciário que ocorreram nos últimos dois anos, o consumidor de carne bovina ainda está longe de evitar que o bife em seu prato seja associado ao desmatamento e outros problemas da Amazônia.

Uma reunião nesta quarta-feira (24), em Brasília, revelou que ainda há um longo caminho até o setor conseguir algum tipo de controle efetivo. Os problemas envolvem desde evitar que os rebanhos invadam áreas de floresta, e sejam um vetor do desmatamento, até questões sanitárias, como a qualidade da carne consumida.

O principal indicador de que há algo de errado entre as 220 milhões de cabeças de gado do país são os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esses números apontam que existem oito milhões de couros a mais do que as carcaças registradas como abatidas. Uma quantidade 100% superior ao que era registrada em 2008.

“A grande dúvida é para onde foi essa carne. O que revela que foi vendida sem nenhum registro de procedência, e pior, ainda com fortes indícios de evasão fiscal”, diz Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra.

Outro problema foi o fracasso do sistema de rastreio dos bois, do governo federal. O sistema que deveria ser usado, o Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos (Sisbov), é pouco acessado pelos produtores.

Apenas algumas empresas que exportam o utilizam. “Como não há exigência legal, poucos produtores têm a preocupação em participar. Para ter um controle real da cadeia produtiva seria necessária uma ação envolvendo vários ministérios, principalmente a Fazenda e Meio Ambiente, que é onde há mais fraudes”, diz Leonardo Sakamoto, diretor da organização Repórter Brasil.




“Em 2010 vários representantes dos movimentos sociais entregaram uma carta à Presidência da República para que esse sistema fosse criado, mas nunca houve uma resposta”, complementa Sakamoto.

Regularização
A pressão externa pode ser uma esperança. “A carne é um dos elementos mais importantes para a economia nacional, além de ser a nossa principal commodities de exportação. E a pressão do mercado por maior transparência no setor é cada vez maior, por isso decidimos nos envolver na questão”, afirma o deputado Sarney Filho (PV-MA), presidente da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara dos Deputados. “A grande questão é compreender quais são as ações do governo necessárias para resolver a questão”.

Apesar do cenário desfavorável, ainda há bons exemplos. No Pará, o movimento Carne Legal – voltado para a conscientização do consumidor – aliado às ações coordenadas pelo Ministério Público Federal e o programa Municípios Verdes, conseguiu mudar o cenário no estado. Foram cadastrados dois milhões de hectares nos principais municípios responsáveis por desmatamento, como Paragominas e São Félix do Xingu.

Combata o desmatamento e outras ameaças no game do Globo Natureza: "Missão Bioma"

Programas de ajuste de conduta em frigoríficos e ações judiciais contra bancos que financiavam fazendas com desmatamento ilegal na Amazônia mudaram a realidade local. Apesar de o Estado ainda ser líder ranking do desmatamento segundo medições do Governo Federal e dados do Instituto Homem do Meio Ambiente (Imazon), divulgados no último dia 24, também mostram que o Pará foi o estado que mais apresentou decréscimo nas derrubadas no último mês, com uma queda de 51% na devastação.

“Acreditamos esse conjunto de medidas que apli camos há dois anos possa estar impulsionando essa mudança”, diz Daniel César Azeredo Avelino, procurador da república (MPF/PA). Porém a lentidão das mudanças ainda vai fazer o consumidor final ter que esperar um pouco mais para ter o seu churrasco livre da sombra do desmatamento.

“Acredito que em 15 anos a realidade vai ser muito diferente, e podemos ter até 100% da produção controlada e até certificada, como foi com o café“, diz Smeraldi, da Amigos da Terra. “A questão é que para controlar o desmatamento, e outros problemas, seria necessário que isso acontecesse em cinco anos”, complementa.

Mercado
Os representantes dos varejistas que lidam com o consumidor final também afirmam que o processo de mudança do perfil da pecuária no Brasil ainda está em seus estágios iniciais. “A cadeia toda - desde as fazendas até o supermercado – ainda está buscando caminhos. Por isso é impossível falar em prazos”, diz Paulo Pompilio, diretor de relações institucionais do Grupo Pão de Açúcar.

“O que podemos falar são de nossas práticas, onde não compramos de nenhuma fazenda ou frigorífico que tenha alguma ilegalidade”. O grupo também tem um programa que busca rastrear 100% da carne, onde é possível identificar por um código número de qual fazenda veio o bife que vai para o nosso prato, a partir de 27 fazendas certificadas. Porém, a expansão do programa em relação ao montante da carne que é vendida no mercado ainda pequeno.

“Não dá para falar em número ainda, mas mesmo assim, vemos que há uma grande receptiv idade do consumidor, o que é um indicador de que esse é um caminho positivo a se seguir e que existe a possibilidade de termos produtos sérios”.

Governo
O Globo Natureza procurou o Ministério da Agricultura para comentar as falhas apresentadas por ambientalistas e entidades do Sisbov, mas não houve retorno.

Fonte: g1.globo.com

Novo rio subterrâneo na Amazônia pode ser o maior do mundo



Pesquisadores descobriram um curso de água a 4 km de profundidade. Batizado de Hamza, o rio nasce nos Andes e deságua no Atlântico.

Indícios da existência de um rio subterrâneo, com a mesma extensão do Rio Amazonas, que estaria a 4 mil metros abaixo da maior bacia hidrográfica do mundo, foram divulgados neste mês em um estudo realizado por pesquisadores da Coordenação de Geofísica do Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro.

O Rio Hamza nasce no Peru, na Cordilheira dos Andes, mesma região que o Rio Amazonas. “Essa linha de água permanece subterrânea desde sua nascente, só que não tão distante da superfície. Tanto que temos relatos de povoados daquele país, instalados na região de Cuzco, que utilizam este rio para agricultura. Eles sabem desse fluxo debaixo de terrenos áridos e por isso fazem escavações para poços ou mesmo plantações”, afirmou o pesquisador do pesquisador indiano Valiya Hamza do Observatório Nacional.

O fluxo da água deste rio segue na vertical, sendo drenado da superfície até dois mil metros de profundidade. Depois, próximo à região do Acre, o curso fica na horizontal e segue o percurso do Rio Amazonas, no sentido oeste para o leste, passando pelas bacias de Solimões, Amazonas e Marajó, até adentrar no Oceano.

“A água do Hamza segue até 150 km dentro do Atlântico e diminui os níveis de salinidade do mar. É possível identificar este fenômeno devido aos sedimentos que são encontrados na água, característicos de água doce, além da vida marinha existente, com peixes que não sobreviveriam em ambiente de água salgada”, disse.

Características
A descoberta é fruto do trabalho de doutorado de Elizabeth Pimentel, coordenado por Hamza. Ela indica que o rio teria 6 mil km de comprimento e entraria no Oceano Atlântico pela mesma foz, que vai do Amapá até o Pará. A descoberta foi feita a partir da análise de temperatura de 241 poços profundos perfurados pela Petrobras nas décadas de 1970 e 1980.

“A temperatura no solo é de 24 graus Celsius constantes. Entretanto, quando ocorre a entrada da água, há uma queda de até 5 graus Celsius. Foi a partir deste ponto que começamos a desenvolver nosso estudo. Este pode ser o maior rio subterrâneo do mundo”, afirma Hamza.

“Não é um aquífero, que é uma reserva de água sem movimentação. Nós percebemos movimentação de água, ainda que lenta, pelos sedimentos”, disse o pesquisador cujo sobrenome batizou o novo rio.

De uma ponta a outra
Apesar de ser um rio subterrâneo, sua vazão (quantidade de água jorrada por segundo) é maior que a do Rio São Francisco, que corta o Nordeste brasileiro. Enquanto o Hamza tem vazão de 3,1 mil m³/s, a do Rio São Francisco é 2,7 mil m³/s. Mas nenhuma das duas se compara a do rio Amazonas, com 133 mil m³/s.

“A velocidade de curso do Hamza é menor também, porque o fluxo de água tem que vencer as rochas existentes há quatro mil metros de profundidade. Enquanto o Amazonas corre a 2 metros por segundo, a velocidade do fluxo subterrâneo é de 100 metros por ano.

Outro número que chama atenção é a distância entre as margens do Hamza, que alcançam até 400 km de uma borda a outra, uma distância semelhante entre as cidades de São Paulo e o Rio de Janeiro.

“Vamos continuar nossa pesquisa, porque nossa base de dados precisa ser melhorada. A partir de setembro vamos buscar informações sobre a temperatura no interior terrestre em Manaus (AM) e em Rondônia. Assim vamos determinar a velocidade exata do curso da água”, complementa o pesquisador do Observatório Nacional

Fonte: g1.globo.com